Antes mesmo de nascer, a criança ganha uma identidade virtual, visto que os pais compartilham nas redes sociais o período da gestação, nascimento e os primeiros meses de vida. Assim, a criança já nasce num universo digital e, antes mesmo de ser alfabetizada, demonstra uma habilidade superior à dos adultos para manusear celulares, tablets etc. Sem mesmo terem aprendido a ler ou a falar direito, encontram (sem ajuda) seus vídeos e joguinhos favoritos

 

Como cuidar para que essa relação com a tecnologia não ultrapasse o limite saudável?

Existe uma linha tênue entre o uso produtivo dos dispositivos tecnológicos, cabendo aos pais e/ou responsáveis zelar pela forma como os pequenos se utilizam dessas ferramentas. Não adianta proibir, é preciso acompanhar tudo o que os pequenos acessam e explicar o porquê nem tudo é liberado para sua idade; é preciso que eles entendam o motivo da proibição, do contrário, apenas despertará o interesse em acessar tais conteúdos. Essa é uma grande oportunidade para que os pais aprendam a ajudar seus filhos a lidarem com esse universo tecnológico, já que a grande maioria dos adultos não vivenciou essa experiência quando eram crianças.

Sabemos que crianças e adolescentes de hoje estão cada vez mais “antenados” e, desde muito cedo, utilizam as redes sociais para compartilharem suas ideias, experiências, registrarem momentos diversos e muitas vezes, aproveitam para fazerem amizades à longa distância etc. Até aí nenhum problema aparente; o problema passa a ser quando a relação com o mundo digital acaba por afastá-los do mundo real. Muitos passam a viver uma realidade paralela, onde podem se reinventar e criar “personagens” que lhe parecem mais interessantes que a identidade original. Com tantos recursos, fugir para uma realidade virtual acaba sendo uma forma de lidarem com as próprias angústias e decepções, evitando contato com amigos reais e/ou familiares.

Importante citar que esse “isolamento” não acontece da noite para o dia e, geralmente, pode ser evitado de maneira muito simples: com a presença dos pais na vida dos pequenos. Observa-se que crianças são deixadas com jogos e internet como forma de distraí-los, enquanto pais e/ou responsáveis se ocupam de outras atividades. Sem monitoramento do que acessam, crianças ficam expostas precocemente a uma série de riscos (como acesso a conteúdo adulto, ficam vulneráveis à pedofilia, bem como expostas a outros riscos de saúde e à própria vida).

O segredo para lidar com essa realidade de maneira satisfatória é associada à paciência, conversa franca e participação dos filhos na tomada de decisões, garantindo uma relação familiar saudável e evitando que o mundo digital se torne um problema.

A grande questão é que a tecnologia é vista como uma faca de dois gumes, pois está relacionada à aspectos positivos e negativos, de acordo com seu uso. A internet é uma ferramenta, que se bem utilizada, pode gerar bons frutos no desenvolvimento de crianças e adolescentes, tais como: potencializar habilidades cognitivas e motoras, facilitar o aprendizado e favorecer a comunicação (verbal e escrita) por meio da busca por informação, contribuir para a formação dos indivíduos, no sentido de terem uma visão crítica e se apresentarem como formadores de opinião. Do outro lado da moeda, vemos que o uso indevido pode acarretar sérios problemas como: isolamento social, dependência de jogos e redes sociais, prejuízo na qualidade do sono e alimentação, queda no rendimento escolar etc.

Calcula-se que a cada cinco crianças e adolescentes, uma sofre de algum transtorno que necessita de tratamento especializado. Entre as queixas mais frequentes destaca-se a insônia, queda no rendimento escolar e distúrbios de ansiedade. Outras consequências negativas do uso indevido do meio digital referem-se à crescente onda de cyberbullying (violência virtual) e tecnoestresse (conhecida também como a doença da conectividade, pela necessidade extrema de se manter conectado às redes sociais e troca de mensagens).

De maneira geral, é importante estar atento aos “sinais de alerta” que crianças e adolescentes emitem, como o isolamento ou apatia, queda no rendimento escolar, mudança repentina de humor entre outras características que demonstram alterações no comportamento e/ou na rotina dos mesmos.

Quando se tem dúvidas sobre o que fazer ou quando não se sabe qual atitude tomar com os filhos, nestes casos, a melhor alternativa é buscar ajuda de um profissional. Prolongar a situação, na esperança de que as coisas se resolvam por si só, pode agravar o problema e dificultar a solução do mesmo.

“Uma infância ideal é aquela onde as crianças disponibilizam de novos meios de diversão, mas não abrem mão das brincadeiras clássicas, que ajudam na socialização e formação do sujeito”

Simone Ottoni (CRP 06/119232) é psicóloga com foco em atendimento infantil e familiar. Para mais informações, entre em contato (11) 95756-7194