A princípio considera-se que crianças pouco sabem sobre as coisas do mundo, ainda não tem senso crítico nem clareza sobre o que é justo ou certo. Crianças pequenas são como um recipiente vazio, que vai se preenchendo de conteúdos, através das experiências que vai vivenciando.
Aos dois anos ainda não alcança a sensação de um mundo daquele que mentalmente vivencia. Não é conduta passiva, pois vai se desenvolvendo, registrando tudo o que acontece à sua volta. Aos poucos, vai aprendendo uma série de coisas, inclusive a perceber-se um ser diferente dos demais, entendendo que as pessoas são capazes de sentir dor e alegria, como ela. A cada etapa, vai adquirindo mais consciência da realidade, diminuindo suas fantasias. Aos sete anos já tem personalidade e consciência de sua individualidade, sendo capaz de pensar, ter ideias, planejar coisas e mentir conscientemente.
Geralmente nos deparamos com estórias que as crianças contam e as consideramos “sem pé, nem cabeça”. Embora com feições de absurdo, podem revelar uma realidade encantadora ou assustadora. Escuro, barulho ou ruídos estranhos podem fazer com que a criança imagine coisas e acredite que são reais.
É importante que a criança encontre espaço para expressar seu mundo imaginativo e se relacione com adultos que possam acolher os frutos de sua imaginação, sem criticá-la, transmitindo-lhe confiança. Fundamental para os pequenos é que se sintam seguros, tendo alguém em quem confiar, pois assim eles percebem que não é necessário mentir ou inventar estórias, pois tem alguém que os compreendem, entende seus medos, e os protegem e tranquilizam quando algo não está bem.
As crenças em heróis, princesas, monstros, Papai Noel, coelhinho da páscoa e demais contos de fadas fazem parte do universo infantil. Elas são muito importantes para a formação de valores da criança. Importantes também para seu desenvolvimento motor, cognitivo e psíquico, favorecendo este desenvolvimento de maneira saudável.
Os conteúdos desse tipo de literatura estão diretamente relacionados com os problemas e conflitos interiores. Através desses contos, as crianças entram em contato com essa problemática, e tendem a descobrir como esses conflitos podem ser solucionados. Assim, por intermédio da fantasia, vão trabalhando seus conflitos e buscando respostas para aquilo que não está bem dentro delas.
É comum a criança pedir ao adulto que lhe conte a mesma estória várias vezes, demonstrando identificar-se com algum personagem. Isso possibilita que ela transfira seus medos para os personagens, de maneira que ao resolver o problema, ela simplesmente deixa de pedir para que repita tal conto.
Os contos trazem em seu enredo, personagens que representam o bem e o mal, como são na nossa vida. Mas nem sempre as mensagens são passadas de forma explícita, deixando a cargo da fantasia infantil, a decisão sobre como aplicar aquilo à sua própria vivência, o que vai se tornando mais fácil, na medida em que a criança vai amadurecendo.
É importante enfatizar que as fantasias são fundamentais no universo infantil, pois elas darão existência ao mundo das realidades, posteriormente.
Alguns teóricos defenderão que o quanto antes a criança entrar em contato com a verdade, melhor para elas. Outros terão uma opinião bem contrária a isso. Penso que o ideal é expor a verdade, conforme o amadurecimento da criança, explicando apenas aquilo que ela consegue compreender.
Há pais que se sentem inseguros em alimentar as fantasias das crianças, temendo que tenham dificuldade em aceitar a realidade. A esses pais, oriento que não podemos desencorajar as crianças nem duvidar de suas crenças, visto que elas tomarão outra estrutura conforme vão amadurecendo – isso acontece naturalmente.
Desmitificar ou afirmar que as estórias que a criança acredita não existem pode prejudicar sua capacidade de autoconfiança como também em relação ao outro e solucionar conflitos por si só. Portanto, deve saber identificar o melhor momento para revelar a real intenção dos contos e fornecer informações mais precisas às crianças.